Sou Andrea Vargas, tenho 46 anos, sou formada em Direito desde 2001 e sempre atuei na área jurídica empresarial. Mas, em 2012, minha vida tomou um rumo inesperado e transformador: o nascimento do meu primeiro filho. Um menino muito amado e desejado, que veio ao mundo para me ensinar um novo olhar sobre a vida. Na época, morávamos na Austrália e, como toda mãe de primeira viagem, eu tentava entender os desafios da maternidade em um país diferente, longe da minha família e do meu suporte. Mas, desde cedo, percebi que meu filho enfrentava dificuldades que iam além do esperado. Seletividade alimentar severa, hipersensibilidades sensoriais intensas, desafios na comunicação e na socialização. No começo, achei que fosse algo comum em crianças bilíngues, mas minha intuição dizia que havia algo mais.   ​Comecei a estudar sobre autismo, transtornos do processamento sensorial e desenvolvimento infantil. Muitas informações faziam sentido, mas eu estava sozinha nessa jornada. Pessoas ao meu redor diziam que era frescura, que eu estava exagerando, que era coisa de criança mimada. Mas eu sabia que não era.  ​ Voltamos ao Brasil em busca de respostas, mas mesmo consultando médicos renomados, ninguém conseguia chegar a um diagnóstico. Foram muitas experiências frustrantes, muitas lágrimas e uma angústia profunda ao ver meu filho sofrendo, especialmente na escola, onde ele chorava todos os dias.   ​Quando finalmente chegamos a um diagnóstico, a luta não terminou. Encontrei profissionais despreparados, que não sabiam manejar o comportamento dele. Meu filho passou a viver dentro de salas de terapia, sem espaço para brincar, sem vivenciar a infância. Olhava ao redor e via tantas outras crianças na mesma situação. Isso me perturbava. Não era justo.   ​Com a chegada do meu segundo filho, novamente muito amado e esperado, o diagnóstico veio outra vez. Mas, dessa vez, eu já estava mais preparada. Ainda assim, ele me mostrou como o espectro autista é vasto e como cada criança pode ser única dentro dele. Cada um com seus desafios, suas forças, sua forma de enxergar o mundo.   ​Vieram novos desafios e, com eles, novas mudanças. Meu casamento não resistiu. Me divorciei e, algum tempo depois, conheci meu atual companheiro, que sempre me dizia:   "Você sabe tanto, passou por tantos desafios comuns a outros pais atípicos... Por que não criamos um espaço diferenciado? Um lugar onde as crianças possam ter experiências reais da infância, em um ambiente rico em estímulos, cercado de natureza, e onde elas possam, acima de tudo, ser felizes?" ​Essas palavras acenderam algo em mim. Foi assim que nasceu a *All Senses*. Um espaço que vai além das terapias convencionais. Aqui, acolhemos não apenas as crianças, mas toda a família. Com empatia, amor e cumplicidade, caminhamos juntos nessa trajetória desafiadora e linda que é criar uma criança atípica.   ​Se você também está nessa jornada, saiba que não está sozinho.